Eis a Moradas dos Desgraçados e Perdidos...

sábado, 19 de setembro de 2015

Declínio de um homem ou o relato da destruição de uma esperança

Há tempos que não apresentava nada nesse espaço dessa mísera favela, mas a situação mudou quando me deparei com a obra de Osamu Dazai (1948). É simplesmente impossível ler essa obra e não ser tocado, ou melhor, abraçado por toda desesperança e amargura que Declínio de um homem evoca.
Essa foi a última obra que o autor publicou antes de cometer suicídio dias antes de completar 38 anos e nessa obra há diversos da vida do autor (talvez seja um dos motivos para que esta venha ter tanta força – afinal o autor depositou os pedaços finais de sua trágica vida nela).
A história é uma espécie de relato autobiográfico do “jovem” Yozo apresenta os motivos de seu “declínio como ser humano” e justamente nesses motivos vemos diversos aspectos que nos acompanham diariamente. O primeiro deles é a nossa cada vez mais profunda incapacidade empática; na obra temos esse ponto inicial com a grande família do personagem principal onde todos estão completamente atarefados e não conseguem perceber a fragilidade de Yozo. Se pensarmos nas várias instituições de nossa querida sociedade veremos esse mesmo ponto: Nossas famílias crescem mortas, as escolas são lugares inóspitos e falidos que se quer conseguem transmitir conhecimento quanto mais ajudar a humanizar as Igrejas cristãs... Até o Deus delas já era...
O segundo ponto de Declínio do Homem que Yozo passa é a falsificação de si próprio, pois desde cedo ele viu a sujeira das pessoas e devido a sua insegurança que cada vez mais foi se tornando sua fraqueza não foi capaz de combatê-la e para esconder sua angústia criou uma persona alegre: Ele que era um ser melancólico e temeroso por dentro tornou-se um piadista, um rapaz extremamente divertido por fora, capaz de arrancar sorrisos de qualquer e assim esconder suas angústias e o medo constante das pessoas que trazia consigo. E quantas vezes nós mesmos não seguimos esse caminho de inautenticidade construindo uma máscara que melhor se adapte as normas falidas de nossa sociedade. Quantas vezes aceitamos destruir nossos sonhos e desejos apenas para termos a falsa aceitação de pertencermos a um maldito grupinho... Mas essa tática não dá certo... E Yozo nos mostrou perfeitamente o seu fracasso...

Temos o terceiro e o 4 ponto do declínio do homem (Coloco os dois juntos para tentar evitar qualquer tipo de Spoiler sobre a obra).

Uma hora nossas máscaras acabam caindo e aí somos obrigados a encarar a desgraça dessa Era ou fugir dela – Yozo escolheu fugir da Era e fez isso através das drogas e uma bem conhecida que geralmente está a nossa mão o álcool. Yozo assim como o próprio autor tiveram problemas terríveis com o álcool e vemos tudo ao seu redor ser destruído. E como nenhum homem é uma ilha Yozo acaba levando ou contribuindo para arruinar a vida de diversas mulheres ao longo de sua vida. Cabe aqui um trecho da obra que se encontra inclusive na traseira do livro:

“Com o tempo, aprendi que bebidas, cigarros e prostitutas eram os instrumentos que eu dispunha, ainda que de forma temporária para dissipar meu pavor dos seres humanos. Mesmo se precisasse vender tudo o que possuía para dispor desses instrumentos, eu o faria de bom grado.”

Infelizmente essa é uma das posições mais freqüentes em nossos dias, quantas mulheres e meninas não são simplesmente destroçadas para que nós e (principalmente os homens possam aliviar suas vergonhas, medos ou possam se mostrar poderosos para os outros)? Ou pior, quantos casamentos não são o palco onde uma destruição mútua ocorre diariamente?
Temos nessa obra a retratação das favelas existentes em nós. Osamu Dazai através de Yozo mostrou deu voz a alguém que já estava morto em vida – alguém que foi transformado em um pilho e nos convidou a olhar para os diversos piolhos existentes em nossa sociedade. Talvez uma olhada rápida no visor do seu celular ou em algum espelho de sua casa mostre um dos primeiros piolhos que devem ser ajudados...
Devemos pensar o Declínio de um Homem como a última esperança de não ver declinada o último fio que segura essa pobre coitada... Essa obra foi criada para que possamos procuramos o Yozo dentro de nós e pelas vielas e sarjetas afogados na bebida, nas devassidões e no desespero que cria cada dia mais favelas intransponíveis.




Essa é com toda certeza uma obra que merece ser lida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário